Como cirurgião de coluna, uma das perguntas que mais escuto dos meus pacientes é se é possível fazer um transplante de disco intervertebral com tecido humano. Embora seja uma pergunta válida, a resposta não é tão simples assim.
Os discos intervertebrais são estruturas localizadas entre as vértebras (osso) da coluna, e são fundamentais para o seu bom funcionamento. Esses discos são compostos por um núcleo pulposo, que é uma estrutura gelatinosa (como se fosse um amortecedor), e um anel fibroso, que é uma camada de tecido conectivo mais resistente externamente que circunda a parte gelatinosa.
No entanto, diferentemente de muitos outros órgãos, como o fígado e o coração, que possuem uma boa vascularização com artérias levando nutrientes e oxigênio e veias removendo os resíduos metabólicos, os discos intervertebrais não têm vasos sanguíneos abundantes e calibrosos em toda sua extensão. Na verdade, apenas o anel externo e a junção disco-osso do corpo vertebral são levemente vascularizados, com vasos sanguíneos finos e delicados, enquanto toda parte interna é avascular, sem vasos sanguíneos, artérias e veias, ou vasos linfáticos.
Dessa forma, a maior parte da nutrição e remoção dos resíduos dos discos se dá por difusão, em que as substâncias vão se movimentando lentamente entre as células do disco, entrando nele e saindo dele, até chegar a uma região próxima de onde tenham vasos sanguíneos. Esse processo é fundamental para manter a integridade e a saúde do disco intervertebral.
Entretanto, essa falta de vascularização representa um grande desafio para a realização de transplantes de disco intervertebral. Isso porque, para que um transplante seja bem-sucedido, seria necessário conectar o disco transplantado com nossos vasos sanguíneos, para que ele pudesse receber os nutrientes e oxigênio necessários para sua sobrevivência e evitar a necrose (morte das células). Como a maior parte do disco é avascular, esse processo é praticamente impossível.
Portanto, mesmo que fosse realizado um transplante de disco, ele acabaria se degenerando e causando problemas ao paciente que o recebesse. Além disso, o processo de degeneração do disco transplantado poderia desencadear um processo inflamatório e, consequentemente, piorar a condição do paciente.
Por isso, atualmente, não existe uma técnica de transplante de disco intervertebral com tecido humano que seja considerada segura e efetiva. As alternativas terapêuticas para os pacientes com problemas de disco incluem tratamentos conservadores, como fisioterapia, medicamentos e mudanças no estilo de vida, ou procedimentos cirúrgicos que visam remover o disco afetado e substituí-lo por uma prótese.
Embora o transplante de disco intervertebral com tecido humano não seja possível, a medicina oferece outras opções para tratar os problemas na coluna vertebral, como a substituição do disco por uma prótese, que é conhecida como artroplastia de disco. Nesse procedimento, o disco degenerado é removido e substituído por uma prótese que mantém a altura adequada entre as vértebras adjacentes, mantendo assim a estabilidade da coluna vertebral e prevenindo a dor. Essa técnica minimamente invasiva é indicada para pacientes que sofrem de hérnia de disco, estenose de canal, degeneração do disco intervertebral e outras condições que afetam a coluna vertebral. Outra opção é a fusão vertebral, também conhecida como artrodese, que é um procedimento cirúrgico que une duas vértebras adjacentes, eliminando o movimento entre elas e, consequentemente, reduzindo a dor na região afetada. A artrodese da coluna pode ser realizada utilizando-se enxertos ósseos e instrumentação como parafusos, hastes e placas.
Além disso, a medicina regenerativa oferece possibilidades para tratar os problemas de coluna, como o uso de células-tronco e fatores de crescimento, que podem ser aplicados diretamente no disco intervertebral degenerado para estimular a regeneração do tecido e melhorar a função do disco. Essas terapias ainda estão em desenvolvimento, mas apresentam resultados promissores em estudos preliminares.
Em resumo, apesar de não ser possível realizar um transplante de disco intervertebral com tecido humano, existem outras opções de tratamento disponíveis e em desenvolvimento para tratar a degeneração discal e outras patologias da coluna vertebral. O importante é buscar orientação adequada e individualizada com um especialista em coluna, este pode ajudá-lo a decidir qual é a melhor opção de tratamento para o seu caso específico.